domingo, 31 de março de 2013

Botões fechados

Muitas pessoas não precisam se esforçar para acreditar em algumas coisas, como milagres e grandes novidades, pois já tiveram as mentes abertas, destrancadas por qualquer tipo de chave que as faz acreditar. Estas nasceram assim, ou, ainda bebês, quando as mentes assemelham-se a pequenos botões, nutriram-nas até se abrirem, aos poucos, as pétalas e as prepararam para que a própria natureza da vida as alimentasse. Com o cair da chuva e o brilho do sol, elas se mantêm em contínuo desabrochar; com as mentes assim abertas, passa pelas circunstâncias da vida decididas e tolerantes, vêem luz na escuridão, possibilidades em beco sem saída, experimentam vitória quando outras expressam fracasso, questionam quando outras aceitam. Apenas menos embotadas, menos cínicas. Com menos probabilidade de entregarem os pontos. Em outras pessoas, as mentes se abrem mais tarde na vida, pela tragédia ou pelo triunfo. Ambos funcionam como a chave que abre e ergue a tampa daquela caixa que sabe-tudo e aceitam o desconhecido, dizem adeus aos pragmatismos e às linhas retas.

Por outro lado, existem aquelas cujas mentes não passam de um buquê de talos, dos quais brotam botões quando elas apreendem uma nova informação – um novo botão para cada novo fato –, mas nunca se abrem, jamais florescem. Trata-se das pessoas de letras maiúsculas e pontos finais, mas nunca de pontos de interrogação e elipses (...) O tipo sabe-tudo! O tipo “se não consta de um livro ou não se ouvir falar a respeito em um lugar antes: não seja ridículo!”. São pensadores lineares com as cabeças cheias de botões das mais belas cores, tão bem cuidados e tão deliciosamente perfumados, mas que nunca se abriram, nem se mostraram leves ou delicados o suficiente para dançar com a maré; corretos e rígidos, tão prosaicos que permaneceram botões até o dia da morte (...) e embora não estejam mortas, com certeza vivas que não estão!

(inspirado em textos de Cecelia Ahern)